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AÇÕES DE SAÚDE BUCAL EM CRIANÇAS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
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2014_FIOCRUZ_Krishna Andreia Feitosa PetrolaBaixar
A odontologia tem avançado em pesquisas e tecnologias que têm conseguido melhorar as condições de saúde bucal da população mundial. No entanto, algumas doenças bucais como a cárie dental ainda persistem entre os problemas de grande relevância social no mundo. A desigualdade social nas condições de saúde bucal é um problema de saúde pública que ainda precisa ser enfrentado. O Brasil é marcado por desigualdades socioeconômicas que favoreceram desigualdades em saúde ao longo do tempo. Entre os dois levantamentos epidemiológicos de base nacional realizados em 2003 e 2010, houve uma inexpressiva redução na cárie dental na idade índice de cinco anos. Ainda segundo esses levantamentos, a cárie dentária na idade de cinco anos permaneceu sem tratamento. Considerando a prevalência desta na população infantil, um problema de saúde bucal controlável através de ações de promoção e prevenção da saúde e tratamento curativo, se faz necessária a investigação de como politicas públicas influenciam o acesso deste grupo às ações de promoção, proteção e recuperação da saúde bucal. No intuito de reduzir as desigualdades sociais e em saúde, o Brasil desenvolveu duas de suas maiores políticas públicas: a Estratégia de Saúde da Família (ESF) e o Programa Bolsa Família (PBF) que tem como foco a atenção básica à saúde e o enfrentamento dos determinantes sociais em saúde. Estas duas políticas têm demonstrado resultados interessantes, entretanto, embora priorizem populações semelhantes, existem poucos estudos examinando as relações e eventuais interações entre o Programa Bolsa Família e a Estratégia Saúde da Família. Desta forma, este estudo pretendeu identificar as ações da Equipe da Saúde da Família na promoção, proteção e recuperação da Saúde Bucal da população infantil assistida pelo Programa Governamental Bolsa Família no município de Fortaleza, Ceará. Além disso, também, se buscou identificar, segundo os pais (responsáveis) das crianças beneficiadas pelo Programa, se elas haviam recebido essas ações de promoção, proteção e recuperação da saúde bucal e a assistência odontológica nos consultórios das unidades de saúde. Nesse sentido desenvolveu-se este estudo exploratório-descritivo de natureza quantitativa através de entrevistas estruturadas direcionadas aos cirurgiões-dentistas da ESF, aos profissionais de saúde que acompanham as famílias na condicionalidade saúde do PBF nas unidades de saúde da família e pais de crianças beneficiadas pelo Programa no município de Fortaleza. No total, participaram da pesquisa 532 pessoas, sendo 74 cirurgiões-dentistas (CD) da Estratégia Saúde da Família de Fortaleza; 74 profissionais responsáveis pelo acompanhamento do cadastro do Bolsa Família nas unidades de saúde do município e 384 pais ou responsáveis por crianças de 0 a 6 anos de idade assistidas pelo Programa Bolsa Família em Fortaleza. Observou-se, entre os resultados mais relevantes, que a maioria (95,9%, n= 71) dos profissionais que acompanham as crianças são enfermeiros e 94,6% (n=70) atuam na ESF. Não realizam ações de saúde bucal específicas para as crianças do PBF 93,2% (n= 69) dos dentistas e 82,4% (n= 61) dos profissionais. 74,3% (n= 55) dos dentistas e 75,7% (n= 56) dos profissionais também informaram não desenvolver atividades de orientação e promoção da saúde voltada para os pais e ou responsáveis por estas crianças. 93,2% (n= 69) dos dentistas e 71,6% (n= 53) dos profissionais não aproveitam o momento em que as crianças e seus pais estão na unidade realizando o acompanhamento em saúde para permanência no PBF para ações de saúde bucal. A maior parte dos profissionais que acompanham as famílias do PBF, 75,7% (n= 56) afirmou que encaminha mais as crianças menores de sete anos de idade às consultas odontológicas quando o atendimento se dá na rotina normal de trabalho que quando atendem crianças no PBF; 79,7% (n= 59) desses profissionais disse que orienta aos pais a procurar pela consulta odontológica. No entanto, 77,3% (n= 297) dos pais afirmaram que suas crianças nunca foram atendidas no consultório odontológico da unidade de saúde. Nos três grupos pesquisados, 89,2% (n= 66) dentistas, 97,3% (n= 72) profissionais e 88,8% (n= 341) pais (responsáveis) informaram que gostariam que a saúde bucal das crianças fosse acompanhada pelo PBF e que aprovariam caso esta fosse incluída como uma das condicionalidades do Programa Bolsa Família. Concluiu-se que não há interação entre essas duas macropolíticas brasileiras, PBF e ESF, no que diz respeito às ações de saúde bucal de crianças assistidas pelo PBF no município de Fortaleza. Considerando-se a potencialização das ações de saúde através da sinergia dessas duas políticas públicas brasileiras, conjetura-se que a associação entre o PBF e a ESF na atenção à saúde bucal contribuiria para o combate às iniquidades em saúde bucal, desta forma, reforça-se a necessidade desta interação e indica-se ações que as estimulem.
Tipo de Documento
Dissertação
Curso
Mestrado
Título
AÇÕES DE SAÚDE BUCAL EM CRIANÇAS DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA
Autor(a)
KRISHNA ANDRÉIA FEITOSA PETROLA
Orientador(a)
Profa. Dra. Anya Pimentel Gomes Fernandes Vieira Meyer
Palavras-chave
Saúde Bucal; Estratégia de Saúde da Família; Programas de Transferência de Renda Condicional; Programa Bolsa Família.
Resumo
A odontologia tem avançado em pesquisas e tecnologias que têm conseguido melhorar as condições de saúde bucal da população mundial. No entanto, algumas doenças bucais como a cárie dental ainda persistem entre os problemas de grande relevância social no mundo. A desigualdade social nas condições de saúde bucal é um problema de saúde pública que ainda precisa ser enfrentado. O Brasil é marcado por desigualdades socioeconômicas que favoreceram desigualdades em saúde ao longo do tempo. Entre os dois levantamentos epidemiológicos de base nacional realizados em 2003 e 2010, houve uma inexpressiva redução na cárie dental na idade índice de cinco anos. Ainda segundo esses levantamentos, a cárie dentária na idade de cinco anos permaneceu sem tratamento. Considerando a prevalência desta na população infantil, um problema de saúde bucal controlável através de ações de promoção e prevenção da saúde e tratamento curativo, se faz necessária a investigação de como politicas públicas influenciam o acesso deste grupo às ações de promoção, proteção e recuperação da saúde bucal. No intuito de reduzir as desigualdades sociais e em saúde, o Brasil desenvolveu duas de suas maiores políticas públicas: a Estratégia de Saúde da Família (ESF) e o Programa Bolsa Família (PBF) que tem como foco a atenção básica à saúde e o enfrentamento dos determinantes sociais em saúde. Estas duas políticas têm demonstrado resultados interessantes, entretanto, embora priorizem populações semelhantes, existem poucos estudos examinando as relações e eventuais interações entre o Programa Bolsa Família e a Estratégia Saúde da Família. Desta forma, este estudo pretendeu identificar as ações da Equipe da Saúde da Família na promoção, proteção e recuperação da Saúde Bucal da população infantil assistida pelo Programa Governamental Bolsa Família no município de Fortaleza, Ceará. Além disso, também, se buscou identificar, segundo os pais (responsáveis) das crianças beneficiadas pelo Programa, se elas haviam recebido essas ações de promoção, proteção e recuperação da saúde bucal e a assistência odontológica nos consultórios das unidades de saúde. Nesse sentido desenvolveu-se este estudo exploratório-descritivo de natureza quantitativa através de entrevistas estruturadas direcionadas aos cirurgiões-dentistas da ESF, aos profissionais de saúde que acompanham as famílias na condicionalidade saúde do PBF nas unidades de saúde da família e pais de crianças beneficiadas pelo Programa no município de Fortaleza. No total, participaram da pesquisa 532 pessoas, sendo 74 cirurgiões-dentistas (CD) da Estratégia Saúde da Família de Fortaleza; 74 profissionais responsáveis pelo acompanhamento do cadastro do Bolsa Família nas unidades de saúde do município e 384 pais ou responsáveis por crianças de 0 a 6 anos de idade assistidas pelo Programa Bolsa Família em Fortaleza. Observou-se, entre os resultados mais relevantes, que a maioria (95,9%, n= 71) dos profissionais que acompanham as crianças são enfermeiros e 94,6% (n=70) atuam na ESF. Não realizam ações de saúde bucal específicas para as crianças do PBF 93,2% (n= 69) dos dentistas e 82,4% (n= 61) dos profissionais. 74,3% (n= 55) dos dentistas e 75,7% (n= 56) dos profissionais também informaram não desenvolver atividades de orientação e promoção da saúde voltada para os pais e ou responsáveis por estas crianças. 93,2% (n= 69) dos dentistas e 71,6% (n= 53) dos profissionais não aproveitam o momento em que as crianças e seus pais estão na unidade realizando o acompanhamento em saúde para permanência no PBF para ações de saúde bucal. A maior parte dos profissionais que acompanham as famílias do PBF, 75,7% (n= 56) afirmou que encaminha mais as crianças menores de sete anos de idade às consultas odontológicas quando o atendimento se dá na rotina normal de trabalho que quando atendem crianças no PBF; 79,7% (n= 59) desses profissionais disse que orienta aos pais a procurar pela consulta odontológica. No entanto, 77,3% (n= 297) dos pais afirmaram que suas crianças nunca foram atendidas no consultório odontológico da unidade de saúde. Nos três grupos pesquisados, 89,2% (n= 66) dentistas, 97,3% (n= 72) profissionais e 88,8% (n= 341) pais (responsáveis) informaram que gostariam que a saúde bucal das crianças fosse acompanhada pelo PBF e que aprovariam caso esta fosse incluída como uma das condicionalidades do Programa Bolsa Família. Concluiu-se que não há interação entre essas duas macropolíticas brasileiras, PBF e ESF, no que diz respeito às ações de saúde bucal de crianças assistidas pelo PBF no município de Fortaleza. Considerando-se a potencialização das ações de saúde através da sinergia dessas duas políticas públicas brasileiras, conjetura-se que a associação entre o PBF e a ESF na atenção à saúde bucal contribuiria para o combate às iniquidades em saúde bucal, desta forma, reforça-se a necessidade desta interação e indica-se ações que as estimulem.
Abstract
Scientific and technological advances in dentistry have led to significant overall improvements in oral health. However, certain oral conditions, such as dental caries, remain a challenge for public health worldwide due to their association with aspects of social inequality. Brazil is no exception in this regard. According to Brazilian national epidemiological surveys, the incidence of dental caries among 5-year-olds decreased very little between 2003 and 2010, with 80% of cases in this age group left untreated. Considering the high indices of caries in children and the fact that dental caries can be fairly easily avoided or controlled by way of public health promotion and preventive and/or curative care, it is important to examine the public policies regulating access of this group to oral health services. In order to reduce social and health inequalities in Brazil, the government implemented two major public policies, the Family Health Strategy (ESF) and the Bolsa Família Program (PBF), focused on primary care and on the improvement of social health determinants. The results of these two programs have been positive but, despite being aimed at the same socioeconomic groups, few studies have evaluated the relations and possibile interactions between them. The purpose of the present study was to identify the contribution of ESF to the promotion, protection and recovery of oral health among children covered by PBF in Fortaleza (Ceará, Northeastern Brazil). We also determined whether, according to parents or caretakers, the children were receiving oral health guidance and care at public health facilities. In this exploratory-descriptive and quantitative study, information was collected with structured questionnaires administered to ESF-employed dentists (n=74) and health professionals (n=74) responsible for registering and following families meeting PBF stipend requirements at family health facilities in Fortaleza, and to the parents/caretakers (n=384) of children aged 0 to 6 years benefited by the program (total: 532 interviewees). Most of the professionals (95.9%; n=71) following the children were nurses, 94.6% (n=70) of whom were employed by ESF. Most dentists (93.2%; n=69) and health professionals (82.4%; n=61) reported performing no specific oral health procedures on children registered with PBF. Likewise, 74.3% (n=55) of the dentists and 75.7% (n=56) of the health professionals reported providing no health guidance or promotion to the childrenʼs parents/caretakers. Similarly, 93.2% (n=69) of dentists and 71.6% (n=53) of health professionals did not seize the opportunity to provide oral health services to parents and children attending the facility as a PBF stipend requirement. Most of the professionals (75.7%; n=56) following the families benefited by PBF reported referring more children under 7 to dental appointments under routine work conditions than when seeing children at PBF: 79.7% (n=59) reported advising parents to seek dental care. However, 77.3% (n=297) of the interviewed parents/caretakers stated their children had never been seen by a dentist at the facility. The majority of the dentists (89.2%; n=66), health professionals (97.3%; n=72) and parents/caretakers (88.8%; n=341) said they would like PBF to follow the childrenʼs attendance of oral health care and would support the inclusion of such attendance as a PBF stipend requirement. In conclusion, this study reveals that no systematic interaction exists between the two public policies, PBF and ESF, with regard to the oral health care of children benefited by PBF in Fortaleza. However, the synergy created by associating these two Brazilian public policies, PBF and ESF, would greatly potentiate the effects of oral health promotion and care while reducing social inequalities as reflected in oral health.
Linha de Pesquisa
Atenção e Gestão do cuidado em saúde
Ano Defesa
2014
Nucleadora
Instituição
FIOCRUZ
UF
CE