Sandra Maria Carneiro Flor
A compreensão das vulnerabilidades em saúde de pessoas em situação de rua, a partir das histórias de vida delas, torna-se relevante, uma vez que tem potencial para contribuição e elaboração da gestão e do cuidado em saúde, podendo, ainda, subsidiar aqualificação da atenção dessa população que sofre por ser excluída e não ter acesso a políticas públicas, que busquem promover vida com condições sociais mais dignas. Os objetivos desta pesquisa foram: analisar as situações de vulnerabilidade em saúde vivenciada pela população em situação de rua, a partir do referencial de Ayres et al. (2012); caracterizar a população em situação de rua; identificar as situações de vulnerabilidade programática, individual e social. Trata-se de pesquisa descritiva,com abordagem qualitativa, cujos participantes da pesquisa foram 15 pessoas em situação
de rua acompanhadas pelo Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), no município de Sobral – Ceará, Brasil. A coleta de dados foi realizada de janeiro a setembro de 2022, por meio de entrevista semiestruturada, utilizando-se do método da História de Vida, as quais foram registradas em gravador digital. Os dados foram discutidos à luz do referencial de Vulnerabilidade em Saúde de Ayres et al. (2012). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê
de Ética da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Retratamos vivências de dores, sofrimentos, abandono, violência, marginalização e insegurança em ficar permanente apenas em um lugar, tendo que buscar todos os dias um local para
dormir, comer e tomar banho. Os desafios vivenciados antes de irem para as ruas, como desemprego, falta de moradia, problemas familiares, alcoolismo e uso de drogas ilícitas, motivo que os afastaram dos vínculos familiares. O uso e abuso de drogas foram relatadas por quase todos os participantes, pois viveram a experiência ainda na adolescência ou dentro da própria casa. Quanto à identidade de gênero, um se identificou como travesti e outro,homossexual, sendo a orientação sexual identificada como um dos fatores que interferem no desejo de saírem de casa. A violência física e moral, constitui desafio enfrentado em morar na rua, assim como a ausência de um lugar para realizar as necessidades fisiológicas, sono, repouso e alimentação. A vontade de sair das ruas esteve presente, associada à oportunidade de um emprego. Há fragilidade no acesso à rede de saúde mental, aos serviços de saúde, por não terem vinculação com os territórios e não possuírem os documentos necessários que provêm a visibilidade diante da sociedade. A aids está presente entre eles, dos acometidos pela doença, apenas um não fazia uso de drogas. As mulheres em situação de rua enfrentam inúmeros desafios,como a separação dos filhos, causando sentimento de impotência em não poder estar e participar da vida deles. A rua não permite esse tipo de afeto. A fé em Deus é presente entre eles, pois ficam felizes por serem visitados por grupos de voluntários, chamados por eles de anjos sem asa. A situação de rua é permeada por uma série de vulnerabilidades individual, social e ou programática. Doenças crônicas, negação de direitos, discriminação e falta de acesso a políticas públicas mostram a negligência e a necessidade de organização do setor saúde e de demais setores do governo.
HISTÓRIAS DE VIDA DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA: ESTUDO SOBRE AS VULNERABILIDADES EM SAÚDE
Autor(a)
Sandra Maria Carneiro Flôr
Orientador(a)
Cibelly Aliny Siqueira Lima Freitas
Palavras-chave
História de vida; Pessoas em situação de rua; Vulnerabilidade em saúde.
Resumo
A compreensão das vulnerabilidades em saúde de pessoas em situação de rua, a partir das histórias de vida delas, torna-se relevante, uma vez que tem potencial para contribuição e elaboração da gestão e do cuidado em saúde, podendo, ainda, subsidiar aqualificação da atenção dessa população que sofre por ser excluída e não ter acesso a políticas públicas, que busquem promover vida com condições sociais mais dignas. Os objetivos desta pesquisa foram: analisar as situações de vulnerabilidade em saúde vivenciada pela população em situação de rua, a partir do referencial de Ayres et al. (2012); caracterizar a população em situação de rua; identificar as situações de vulnerabilidade programática, individual e social. Trata-se de pesquisa descritiva,com abordagem qualitativa, cujos participantes da pesquisa foram 15 pessoas em situação
de rua acompanhadas pelo Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), no município de Sobral – Ceará, Brasil. A coleta de dados foi realizada de janeiro a setembro de 2022, por meio de entrevista semiestruturada, utilizando-se do método da História de Vida, as quais foram registradas em gravador digital. Os dados foram discutidos à luz do referencial de Vulnerabilidade em Saúde de Ayres et al. (2012). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê
de Ética da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Retratamos vivências de dores, sofrimentos, abandono, violência, marginalização e insegurança em ficar permanente apenas em um lugar, tendo que buscar todos os dias um local para
dormir, comer e tomar banho. Os desafios vivenciados antes de irem para as ruas, como desemprego, falta de moradia, problemas familiares, alcoolismo e uso de drogas ilícitas, motivo que os afastaram dos vínculos familiares. O uso e abuso de drogas foram relatadas por quase todos os participantes, pois viveram a experiência ainda na adolescência ou dentro da própria casa. Quanto à identidade de gênero, um se identificou como travesti e outro,homossexual, sendo a orientação sexual identificada como um dos fatores que interferem no desejo de saírem de casa. A violência física e moral, constitui desafio enfrentado em morar na rua, assim como a ausência de um lugar para realizar as necessidades fisiológicas, sono, repouso e alimentação. A vontade de sair das ruas esteve presente, associada à oportunidade de um emprego. Há fragilidade no acesso à rede de saúde mental, aos serviços de saúde, por não terem vinculação com os territórios e não possuírem os documentos necessários que provêm a visibilidade diante da sociedade. A aids está presente entre eles, dos acometidos pela doença, apenas um não fazia uso de drogas. As mulheres em situação de rua enfrentam inúmeros desafios,como a separação dos filhos, causando sentimento de impotência em não poder estar e participar da vida deles. A rua não permite esse tipo de afeto. A fé em Deus é presente entre eles, pois ficam felizes por serem visitados por grupos de voluntários, chamados por eles de anjos sem asa. A situação de rua é permeada por uma série de vulnerabilidades individual, social e ou programática. Doenças crônicas, negação de direitos, discriminação e falta de acesso a políticas públicas mostram a negligência e a necessidade de organização do setor saúde e de demais setores do governo.
Abstract
Understanding the health vulnerabilities of people living on the streets, based on their life stories, becomes relevant, since it has the potential to contribute to and elaborate management and health care, and can also support the qualification the attention of this population that suffers from being excluded and not having access to public policies that seek to promote life with more dignified social conditions. The objectives of this research were: to analyze situations of health vulnerability experienced by the homeless population, based on the framework of Ayres et al. (2012); characterize the homeless population; identify situations of programmatic, individual and social vulnerability. This is a descriptive research, with a qualitative approach, whose research participants were 15 homeless people accompanied by the Specialized Reference Center for the Homeless Population (Centro POP), in the municipality of Sobral - Ceará, Brazil. Data collection was carried out from January to September 2022, through semi-structured interviews, using the Life History method, which were recorded on a digital recorder. The data were discussed in the light of the Health Vulnerability framework by Ayres et al. (2012). The research was approved by the Ethics Committee of the Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). We portray experiences of pain, suffering, abandonment, violence, marginalization and insecurity in staying permanently in just one place, having to look for a place to sleep, eat and shower every day. The challenges experienced before going to the streets, such as unemployment, homelessness, family problems, alcoholism and use of illicit drugs, which are the reasons that distanced them from family ties. Drug use and abuse were reported by almost all participants, as they lived the experience in adolescence or at home. As for gender identity, one identified himself as a transvestite and another as a homosexual, with sexual orientation identified as one of the factors that interfere with the desire to leave home. Physical and moral violence is a challenge faced in living on the street, as well as the absence of a place to fulfill physiological needs, sleep, rest and food. The desire to leave the streets was present, associated with the opportunity of a job. There is weakness in accessing the mental health network, health services, as they are not linked to the territories and do not have the necessary documents that provide visibility in society. AIDS is present among them, of those affected by the disease, only one did not use drugs. Street women face numerous challenges, such as separation from their children, causing a feeling of impotence in not being able to be and participate in their lives. The street does not allow this kind of affection. Faith in God is present among them, as they are happy to be visited by groups of volunteers, which they call wingless angels. Homelessness is permeated by a series of individual, social and/or programmatic vulnerabilities. Chronic diseases, denial of rights, discrimination and lack of access to public policies show the negligence and the need for organization in the health sector and other government sectors.
