flores-de-mandacaru_final1-2021
O terreno semiárido, predominante no nordeste brasileiro, é onde o Mandacaru cresce e floreia. Essa flor, que embeleza o sertão, é também símbolo de resistência e da força do nordestino. A Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família (RENASF) também usa uma planta endêmica no nordeste brasileiro como símbolo, o Dente-de-Leão, também conhecido como ESPERANÇA. Essa planta, além do nome auspicioso, possui forma dada pela união de várias pequenas estruturas, também subdivi- didas. Juntas elas lembram a juba e a força de um grande leão. E, juntas, elas se desenvolvem ligadas: a um mesmo núcleo central, a uma mesma força motriz, a um mesmo objetivo - que é contri- buir para a formação de profissionais de qualidade atuantes na atenção primária, até o momento de serem lançadas ao vento e geminarem novamente. No ano em que Paulo Freire completaria 99 anos e que a Lei nº 8080, do SUS, completa 30 anos, temos a honra de ter um programa profissional comprometido em fazer pontes e conexões entre a realidade prática/concreta da Estratégia Saúde da Família (ESF) e o saber científico, levando este para além dos muros das universidades e a serviço da população assistida pelo SUS. A Andragogia e Metodologias Ativas são utilizadas no desenvolvimento das atividades do programa, colocando o educando no centro do processo ensino-aprendizagem, para uma aprendizagem significativa e vinculada à realidade. Contudo, este trabalho só é possível pela colaboração e articu- lação de vários atores e instituições. No mestrado, por exemplo, 9 temos hoje mais de 130 docentes de dezenove instituições divididas em nove nucleadoras (Fiocruz, UFPI, UFMA, UECE, URCA, UVA, UFC, UFRN e UFPB), situadas em 7 municípios (São Luiz, Teresina, Fortaleza, Sobral, Juazeiro do Norte, Natal e João Pessoa) de 5 estados nordestinos. Este livro é um exemplo vivo do espraiamento da RENASF, no qual egressos e docentes dividem conosco o conhecimento originado durante seu percurso de crescimento acadêmico junto à rede. Floresce ciência, dividindo conhecimento gerado na prática da Estratégia Saúde da Família e aplicável à realidade da atenção primária brasileira. Aqui, são jogados ao vento, para que floreiem por onde passarem. Mandacaruzar é o verbo que aprendemos a conjugar com esta obra. Percebemos o florescer dessa planta de beleza e resistência. Os versos de Luiz Gonzaga dizem que “mandacaru quando fulora na seca, é um sinal que a chuva chega no sertão”. Para mim, parafraseando nosso conterrâneo ilustre, perce- bemos aqui o amor da força transformadora do conhecimento científico ligado à realidade da Estratégia Saúde da Família chegando ao coração dos leitores. Este livro possui reflexões sobre o próprio programa, inclusive pelo olhar do educando, das questões de saúde mental entre os profissionais da ESF; o uso de medicação como ferramenta do cuidar; a espiritualidade no lidar com a morte; a utilização da terapia comunitária na formação do futuro médico; o desenvolvimento de práticas inovadoras para o cuidar do homem; a perspectiva do usuário em relação à prática interprofissional colaborativa; as potencialidades e desafios da educação alimentar e nutricional na atenção primária; o saber fazer dos profissionais da saúde no enfrentamento da Sífilis (Gestacional e Congênita); as investigações dos óbitos infantis 10 e fetais; assim como da satisfação dos usuários com a qualidade da atenção primária. Observa-se um leque de temas relevantes à prática profissional no Sistema Único de Saúde (SUS). No atual contexto epidemiológico mundial, o qual convivemos com doenças infec- to-contagiosas, crônicas, endemias e pandemias, sistemas de saúde fortes têm um papel primordial no enfrentamento dos desafios da saúde das populações e no combate às desigualdades sociais. As produções, aqui apresentadas, refletem esse contexto e a preocupação com a construção de um sistema de saúde reso- lutivo, dinâmico e colaborativo, questões bastante trabalhadas no Programa Profissional em Saúde da Família da RENASF. Para Paulo Freire a educação não pode ser neutra, mas uma ferramenta de “prática pela liberdade” em que as pessoas, sendo educadas de forma crítica, podem transformar a realidade que estão envolvidas e participar da construção do mundo. Ruben Alves nos ensina que educar não é ensinar a dar respostas, mas ensinar a pensar, desenvolvendo processos de aprendizagem que sejam asas e não gaiolas. Que esta produção possa sensibilizar os leitores e contribuir para a construção de um sistema de saúde ainda mais qualificado, que responda aos anseios e necessidades de nossa população, melhorando assim os indicadores de saúde e a qualidade de vida.
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